É preciso tocar na ferida racismo para que ele seja discutido de fato
Esta foto é muito velha, acho q tinha uns 13 anos: Meu avô, eu, meu irmão e os dogs: Maradona e Beibi.
O meu avô era negro. E tenho orgulho de dizer: sou afrodescende! Quando eu penso na luta contra o racismo, inevitavelmente penso nele. Porque a minha própria família não aceita admitir que ele era negro. Eles dizem: Ele era moreno. Como se fosse vergonha ter um negro na família. Eu sempre tive orgulho das minhas origens, principalmente, da Africana. Dos filhos de meu avô: um negro, um moreno e um branco ( afinal minha avó era branca de mistura européia com índios). Mas admitir que ele era negro ainda é um tabu na família, triste né?
O racismo nas relações cotidianas acontece o tempo todo. Quem nunca ouviu as expressões racistas: “negro também é gente”, ou “ Ah...ela é negra, mas é bonita”, ou “ Negro quando sobe na vida fica metido”, ou ainda “ Aquele neguinho tem atitude suspeita”. São coisas que ouvimos sempre, né mesmo? Será gratuito?
Ainda nas vivencias cotidianas que nunca viu pessoas atravessarem a rua por ver um negro e para uma maioria negro sempre tem atitude suspeita, não? Uma amiga querida negra que trampava na Sadia me disse uma vez: As pessoas não sentam na cadeira que eu me sento. E quando fazem isso a limpam. Ou seja, nas relações de trabalho a situação é mais grave ainda. Existe crime de racismo, mas infelizmente a lei não é aplicada de fato. Ou quase não há denuncias, mas isso merece outra abordagem. Porque todo oprimido tem sentimento de inferioridade e para ele denunciar e difícil. Assim como acontece nos casos de violência contra a mulher.
Na verdade, o racismo é um dos pilares do capitalismo, porque o sistema visa à segregação não só racial, como de gênero, social de orientação sexual, entre outras. A exclusão social é uma forma de dominação e divisão para garantir o capital, capit?
Essa semana organizamos em Marília/SP (uma cidade com características feudal, extremamente conservadora e reacionária) o I AfricaMarilia em comemoração a Semana de Consciência Negra. Comecei sentir o racismo já na organização e na dificuldade de levar público. Ouvi calada de algumas pessoas: Você vai promover macumba? Que horror! Capoeira é coisa de marginal. Só bandido pratica isso. Eita...Difícil, né mesmo? Então, eu sou marginal, porque eu faço capoeira? Se isso é estar à margem, estou e sou com orgulho. De qualquer forma, quase não argumentei... Porque há pessoas que não merecem respostas, mas o silêncio dói.
Todavia por outro lado, aprendi muito...aprendi com a discussão de matriz africana, aprendi com manifestações culturais e no debate sobre políticas públicas para o negro. Aprendi a ser mais humana.
Aprendi que no Brasil vivemos a ditadura da democracia, o mito de que o racismo não existe. E que é operacionalizando este pensamento que ele toma forma. É negando a si mesmo, compreendem? E como disse a Profa. Maria Valéria Barbosa da Unesp: Você percebe que grande parte da massa é racista, inclusive negros, porque introduzem o racismo neles desde sempre...eles não são racista porque querem. É uma questão histórica, de classes e racial. O sentimento de inferioridade acontece porque há valorização da estética européia pela mídia e pela sociedade. Negros são sempre a parte mais baixa das pirâmides quando retratados pelos meios de comunicação. Como trabalhar para resgatar a autoestima de um povo? Não vejo outra saída senão pela educação.
O argumento do capitalismo para preservar o racismo é de que os negros são racistas. Mas isto é um argumento #fail quando se analisa de fato o problema sociologicamente, não é mesmo? O capitalismo adota um padrão de beleza, depois diz que negros não se aceitam negros e querem alisar cabelos. Esta relação é doentia e criminosa. Afinal vivemos na ditadura do cabelo liso, da magreza entre outras. Não se assumir como negro, assim como minha família faz com meu avô, é um sentimento que vem de muito tempo... Um sentimento de inferioridade, de baixa estima e de exploração social e psicológica que o negro ainda sofre. E como bem disse meu irmão: de fato vivemos um pseudo-libertação dos escravos.
Combater a discriminação racial é um ato político. O cabelo trançado é uma maneira e resistência ao padrão estético europeu e do processo de lavagem cerebral dos meios de comunicação e ate da escola que tenta enfiar padrões nas pessoas. O sentimento de inferioridade estética, social nasce daí... Por isso é importante resgatar esse sentimento de orgulho de raça porque o cabelo trançado é uma resistência política. É preciso lutar contra o racismo nos meios de comunicação, na escola, no trabalho e nas relações cotidianas.
Do blog Entre o girassol e o espelho
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